terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Há Graça no Sofrimento?

 Há Graça no Sofrimento? Essa pergunta é o título do livro do Pr. Nino, responsável por Capelania Hospitalar. O subtítulo do livro é "cuidando da alma e do corpo feridos".

Eu comprei o livro em 2013 após o curso de Capelania Hospitalar. Durante alguns meses visitei pessoas internadas e aprendi lições que um curso superior não transmite. 

O sofrimento é solitário e ao mesmo tempo coletivo. Que paradoxo! Ao mesmo tempo que a dor é do indivíduo, todos que se relacionam começam a sofrer em algum grau com o indivíduo. 

As cenas num hospital se repetem e muitas vezes com os mesmos personagens/pacientes. Por meses acompanhei mães que passaram feriados vendo as cores, os enfeites, os fogos e ouvindo as músicas de uma janela de um quarto de hospital. Por várias vezes vi a mesma criança receber o afeto apenas dos enfermeiros e do pessoal da capelania, porque ela não tinha um familiar por perto. 

Em meio ao sofrimento é possível haver graça? 

...

Eu vi pessoas doarem seu tempo para estar num hospital para dizer a um acompanhante "você não está sozinho". Eu senti o poder do amor nas orações feitas nos corredores. 

Para mim o poder de uma oração não é um corpo voltar a ter saúde física plena, trata-se de algo maior e invisível. O poder da oração é a mudança da ótica que a limitação humana impõe. Independente da situação, posso afirmar que é possível existir graça no sofrimento.

Eucaristia é dar graças. Jesus, quando partiu o pão deu graças. O pão que simboliza seu corpo que seria moído por mim e por você. Antes de sofrer, Jesus deu graças. 

Dar graça implica em ação. Qual foi a minha ação de graça pelo sofrimento vivido em 2021? Qual será a minha ação de graça pelo sofrimento que virá em 2022?

Em 2021, num mesmo mês fui duas vezes ao cemitério, enterramos meu tio e meu primo, que eram pai e filho. Sabe, qual foi a graça que eu vi? Eu vi minha tia, agora viúva e sem um dos filhos afirmar que ao orar, Deus lhe falou que ELE é Pai e também Filho. 

Durante o enterro do meu tio, minha prima, agora órfã, compartilhou um sonho no qual ela foi avisada "os meninos estão bem". Tem graça maior que a fé em saber que os meninos estão bem?

Em meio à lágrimas, minha irmã Márcia escreveu uma música - isso é graça! Segue o link da música.

https://www.youtube.com/watch?v=lUCT-qSQXXk

E agora, eu estou fazendo um balanço e compartilhando a graça que vejo em meio ao sofrimento.

Sabe, aquela mãe que não pode participar das festas dos feriados porque o filho está internado? Ela vê graça e agradece porque ela pode estar com o filho. 

Você já agradeceu pela sua saúde e liberdade? Há muitas graças a serem enxergadas!!!

#miesperanca





sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Esperança para a vida severina

 Escrevi o texto a seguir em Dezembro de 2020 e está publicado no blog Belas Urbanas   http://www.belasurbanas.com.br/esperanca-para-a-vida-severina/

Após um ano revisitei o texto e quero compartilhar aqui também com um adendo: a mensagem do poema "Morte e vida severina" saltou aos meus olhos e se tornou visceral para mim após a preparação de uma aula para o 9ºano. Eu fui tocada de tal forma porque eu me vejo no Severino - sou uma Severina. A imagem que retrata o texto foi escolhida pela Adriana Chebabi que é a idealizadora do Belas Urbanas, e eu amei o retrato escolhido porque aborda e acolhe toda a mensagem. Agora, vamos para o texto!

No texto poético “Morte e vida severina”, o escritor João Cabral de Melo Neto narra a história de um sertanejo, retratado como “Severino”, que deixa sua terra natal por causa da seca. O retirante sai em busca de vida, sai em busca de algo que lhe dê esperança. 

Na caminhada encontra um lugar de boa vegetação e trabalho. Por um momento, o cidadão pensa ter encontrado o que tanto buscava. No entanto, ele se depara com a morte de um dos trabalhadores e as marcas registradas no sofrimento de quem lá vive se aflora de tal forma que o retirante percebe que aquele não é o lugar que ele tanto buscava. Então, ele decidi continuar sua jornada em busca de esperança.

O sertanejo desejoso por vida chega até a capital e se choca com as mazelas do centro urbano. A condição de sobrevivência sub-humana continua e com isso o Severino fica totalmente desesperançado. Todavia, algo promissor acontece: o nascimento de uma criança. 

No final do texto, o Severino conversa com um carpinteiro sobre a descrença na vida. Sabiamente, o carpinteiro respondeu que “defender a vida em palavras é difícil, pra não dizer impossível”. O Severino pergunta: “Vale a pena viver?”. O carpinteiro diz que resposta para essa pergunta é dada pelo próprio espetáculo da vida, não importando se o espetáculo será o nascimento de mais um ser para viver essa vida severina. E “não há melhor resposta que o espetáculo da vida”. 

O poema “Morte e vida severina” foi escrito em 1950. 

Vida severina – vida sofrida.

O ano de 2020 apresentou um sofrimento a todos nós e escancarou a fragilidade da existência humana. Não saímos de casa, literalmente. Em compensação, figuradamente, saímos em busca de algo interior. Vasculhamos memórias. Rememoramos muitos momentos e nos questionamos como o Severino.

A minha resposta para 2020 é:

O movimento da vida faz a gente incessantemente buscar “vida” e não apenas “existência”. 

O nascimento renova a esperança e anuncia uma boa-nova.

Que não nos falte a esperança … porque um menino nasceu. É natal!

 Feliz Natal!