O filme
Uma lição de amor é denso. Escolhi esse adjetivo propositalmente uma vez que o dicionário define denso como "rico de conteúdo intelectual e emocionalmente profundo". No original o título é "I am Sam", que traduzido ao pé da letra significa "Eu sou Sam".
Sam é um homem que tem deficiência intelectual, seu desenvolvimento cognitivo é limitado e se condensa aos 7 anos de idade. Logo no início, de forma objetiva o filme apresenta a rotina de Sam, que trabalha numa rede de cafeteria. Sam abrigou uma moradora de rua grávida, no entanto a mãe da criança, que ao nascer recebeu o nome de Lúcia, fugiu. Sam, sozinho, criou a menina como sua filha até a fase escolar, época em que os conflitos causados por sua deficiência esbarraram nos trâmites sociais. O desenrolar do filme é a busca pelo direito de cuidar de sua própria filha, algo que o Estado alegou que Sam não tinha condições de desempenhar.
O roteiro comovente faz os telespectadores olhar para dentro de si mesmos e analisar até que ponto nosso altruísmo é verdadeiro. Percebemos, que por vezes, nossa visão é limitada por enxergarmos apenas por um ponto de vista.
A história apresenta um paradoxo, já que ao nos considerarmos humanos "completos", deixamos de lado a humanidade e priorizamos as técnicas. Isso fica evidente no momento do julgamento, quando o promotor indaga sobre as condições intelectuais de Sam em relação às operações matemáticas, pois ele não consegue fazer conta de multiplicação, apenas soma e subtração. Nessa hora, a defesa argumenta que em nenhum momento o uso da tabuada foi ou é um diferencial no desenvolvimento de um ser humano. Afinal, é bem possível uma pessoa de bom caráter aprender as técnicas de uma operação matemática, mas é quase impossível uma pessoa que retém apenas as técnicas aprender a ser um bom caráter. O desejo de aprender, de ser útil e de servir é algo relacionado à memória afetiva e sua relação com o desempenho intelectual está intimamente ligado ao que todo ser humano carece - empatia.
Por fim, cabe uma pergunta feita a Sam, que se estende a todos nós: "O que faz você pensar que pode criar uma menina adiantada intelectualmente?. Segue a resposta de Sam, válida para todos (os denominados deficientes e os denominados normais): "Para desempenhar o papel de bom pai é preciso constância, paciência, ouvir e fingir que ouve mesmo quando não se pode ouvir mais. É preciso amor".
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